Desde que fui presenteada com umas papas de aveia, deixei de me queixar de cansaço. Que não passa com papas de aveia. Podia amarfanhar-me no sofá, empanturrar-me de coisas doces e ver séries, o dia todo. Podia estiraçar-me na cadeira da marquise, ler livros e beber café, ao som de Carl Orff . Mas o meu cansaço só passa com viagens. É uma maçada: é transportes públicos, arrastar as rodinhas da mala até ao hotel, é calçar os ténis e andar horrores para conhecer as vistas. Comer qualquer coisa, tipo comendo e andando. É perder-me, o caminho de volta parece sempre mais longo. E retornar ao hotel revigorada, o cansaço ficou à porta da minha casa, a aguardar o regresso.
Queria ir ao Porto, dar um abraço à Isabel Paulos. Caso não goste de abraços, bebemos um café. Ou dizemos um olá. Mas ficaria registado, no meu currículo, que tinha ido ao Porto ver a Isabel e aliviar o cansaço. Talvez lá mais para o verão.
Fiquei desiludida quando verifiquei que S. Martinho do Porto não tem doces regionais. Percebem porque vou tantas vezes a Aveiro. Mas tem um Mercado Municipal. Eu gosto muito de Mercados. Principalmente das bancas dos bolos. Mesmo que não sejam regionais, um bolo é sempre um bolo. Estou quase a convencer-me...
Já lá estive uma vez, em agosto, há largos anos. Num hotel do outro mundo. Coincidiu com o Festival do Camarão, o único quarto disponível parecia a casa da tia (como não tenho tias posso dizer estas coisas). Era um quarto enorme dividido em dois. O quarto principal com cama de casal, o outro com três camas pequenas. Estive lá cinco dias, experimentei todinhas. Hoje não faria isso, o ambiente e tal. O esquentador, enfiado na casa de banho. Perigo. A sala de refeições, tinha as paredes e o teto forrados com as páginas da revista Maria e do jornal "Tal & Qual". Tudo muito colorido, eu que nem gosto de cor. Mas era tudo tão estranho, eu ria-me imenso. Acho, inclusive, que fiquei com retenção muscular e a minha expressão facial fazia lembrar o Joker, interpretado por Jack Nicholson, no filme Batman. Já as responsáveis pelo hotel, coisinhas mais lentas, pareciam personagens do filme "A Família Adams". Resumindo, foi estranho, divertido e baratinho.
O hotel ainda existe, foi remodelado, ASAE e tal, mas não vai ser a minha opção.
Portanto, se derem pela minha falta no "Charco", não estranhem. Fui com a minha malinha esbanjar, por aí, aquilo que não tenho: charme e dinheiro.
A foto ilustra a forma charmosa com que me pavoneio em férias...