Ontem não te vi em Istambul ...
ROMI
O trânsito lento no túnel iluminado. O motorista, com ar cansado, parecia dormir. Não quis saber. Captei o momento para memória futura. Fechei os olhos. Quando o carro iniciou a marcha tranquilizou-me e permiti-me adormecer.
Acordei com uma mão dirigida a mim, como um convite para dançar. Era, afinal, só para me ajudar a sair. Pegou na minha mala, deixou-me à porta do hotel e disse-me até amanhã. E eu acreditei. A ingenuidade ímpar de quem acredita em estranhos.
Ele chegou desprovido de bagagem.
Em passo lento como sílabas arrastadas
O aceno de faz de conta
A promessa que subestimou.
Gostei de todos os sorrisos em que acreditei
E desprezei em legítima defesa.
A cidade não a oiço.
Hoje é o velório da cumplicidade desonesta.
Passo ao dia seguinte.
Ontem não te vi em Istambul.