Indiferença…
ROMI
Ajeita o cabelo, põe um batom discreto e os óculos que usa só para ler. Detesta sentir-se atingida pelo que lê, rever-se nas palavras despidas de afetos e de gume afiado. Só fere por dentro. Carrega no batom que retoca, agora vermelho vivo como a dor que escorre, a tinta que quer ser prosa e mata borrão. Continua a ler. Já sem óculos e de olhos fechados, é assim que se lêem os pensamentos. Considera desconcertantes pessoas como ela; considera desprendidas pessoas como ela. Sem sentimentos, sem vontade de estar, sem vontade de agradar. Dizer adeus e fugir, correr para voltar, sem aplausos e alarido. O mais discreto que consegue. O flute que se eleva e não se toca. Vale pelo gesto do brinde tentado às palavras que alteram o batom.
Vira a página do pensamento. Raposa astuta. O cão ladra, mas não morde. E a caravana passa com as malas de porão.