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Jul24
Deixei de fumar. Parece-me... (parte II)
ROMI
Meu Deus, vou ficar rica! Pensei. E, de imediato, me imaginei vestida de amarelo, com um chapéu de abas largas da mesma cor, a desinquietar o senhor Ambrósio porque me apetecia tomar algo.
Deixei de fumar. Pelo menos já não fumo há cinco meses. Jamais saberei se é para a vida toda. A última tentativa não correu muito bem. Desta vez, a musa inspiradora foi uma longa viagem de comboio. Não, não é no Expresso Oriente. Para ficar a um preço suportável, teria de integrar um grupo de pelo menos cinco pessoas. Cruzes credo! Quem gosta de viajar sozinho percebe-me. É uma simples viagem de comboio pela Europa. Para quem fuma, viajar é sempre stressante, mesmo que as viagens sejam curtas. De avião a alternativa é escolher voos com escala e não cortar as unhas nos dois meses antecedentes.
Viajar. Foi isso que me levou a deixar de fumar e, até agora, com sucesso. Tenho mais saudades dos meus momentos com o cigarro do que do cigarro em si.
Não fiquei rica. Nem ganhei mais paladar, olfato, pele luminosa, dentes mais brancos e outras coisas boas que disseram vir a adquirir. Acertaram nos quilos a mais, mas nada que me tire o sono.
Os meus pensamentos ficaram mais pobres, passei a dedicar mais tempo à leitura.
Tenho saudades dos meus serões, horas a fio no escurinho da esplanada lá de casa, a olhar para a noite e a pensar. Divagar, ir para longe, à boleia, camuflada no fumo do cigarro, regressar fora de horas e ir dormir.
Quase todas as semanas chegam livros, hoje chegaram mais dois. " Hotel Savoy", recomendado pela Isabel Silva. "Vi-os Morrer", para matar saudades de Sven Hassel. Falarei dele mais tarde, devo-lhe isso.
Pedro Mexia, rodeado de gulodices, outrora um maço de tabaco. Certamente...