Leitora de Sótão...
ROMI
Século XIX. “As escritoras de sótão”, uma sociedade que reprovava e desvalorizava a expressão literária feminina, levava a que escritoras como Charlotte Bronte, Emily Bronte, Mary Shelley, Louisa May Alcott, entre outras, escrevessem às escondidas. Simbolicamente como se estivessem confinadas a um sótão. Chegavam a escrever e a publicar sob pseudónimos masculinos.
Por vezes, sinto-me uma "leitora de sótão" pelo mesmo motivo: a necessidade de ler certos livros longe de olhares inquisidores. Ler às escondidas.
Quando era miúda, compreendo que o meu pai ou a minha madrasta não quisessem que eu lesse obras como "O Conde de Monte Cristo" e "Os Miseráveis" aos 10 anos, ou "O Exorcista" aos 11. Mas li, "no sótão".
Fui à minha livraria preferida em Paço D’arcos. Claro que não quis o sugerido saco plástico. Se há coisa que gosto é de exibir a minha catrefada de livros, como quem exibe o bem mais luxuoso. Depressa percebi que há livros que só vou poder ler no sótão, longe do olhar crítico.
A leitura é uma ferramenta essencial para entender a história, o pensamento e as ideologias que moldaram o mundo. Gente obtusa não consegue perceber isso.