Manuel António Pina...
ROMI
Amor como em casa
Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.
Faço de conta que não é nada comigo.
Distraído percorro o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro.
Devagar te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no amor como em casa.
Morte, 19 de outubro de 2012 (68 anos) Porto
Chorarei sempre a morte de quem me fez (faz) verdadeira companhia.
"Atropelamento e fuga". Foi através deste poema que o conheci e não mais o larguei. Passou a fazer parte da minha familia silenciosa. Ele e tantos outros: Escritores, pintores, atores, cantores, músicos, etc.. Uns já partiram, outros ainda me restam.
Atropelamento e Fuga
era preciso pelo menos uma grande gritaria,
uma crise de nervos,um incêndio,
portas a bater,correrias.
Mas ficaste calada,
apetecia-te chorar mas primeiro tinhas que arranjar o cabelo,
perguntaste-me as horas,eram 3 da tarde,
já não me lembro de que dia,talvez de um dia
em que era eu quem morria,
um dia que começara mal,tinha deixado
as chaves na fechadura do lado de dentro da porta,
e agora ali estavas tu,morta(morta como se
estivesses morta!),olhando-me em silêncio estendida no asfalto,
e ninguém perguntava nada e ninguém falava alto!
Manuel António Pina. Um ramo de flores brancas para Si, meu querido.