Não tenham medo do que não existe...
ROMI
Meus queridos, personagens inventadas por mim, estão reunidas todas as condições para o isolamento social — e ainda bem. Estava adoentada, não muito, fiquei a trabalhar a partir de casa, com refeições e medicamentos à distância de um clique, sem ter de sair do conforto do lar, incomodar o vizinho, o amigo ou o parente mais próximo, que vive a 8000 km de distância (e isto é rigorosamente verdade).
Mas um mal nunca vem só; nisto os provérbios não falham. Claro que a pessoa não vai para nova, e as maleitas do passado atuam como um relógio, ainda que não haja mudança de tempo. No caso da minha avó, quando lhe doíam as cruzes, o tempo mudava. No meu caso, e só porque sim, o dedo que lesionei no basquete volta e meia desata a doer, e tenho de lhe pôr um aparato elástico para o apaziguar e adquirir alguma mobilidade — mas pouca.
E cá vou, rodeada dos meus males menores e maiores, numa companhia improvisadamente feliz: Livros, música, filmes e ,claro, a minha gata.
E por falar em filmes...
Alguém me disse: se dás atenção à música de um filme, é porque o filme não é bom o suficiente.
Possivelmente o filme não foi bom o suficiente. A banda sonora, sim. "N'ayez pas peur du bonheur il n'existe pas." Assim, como um dogma: "Não tenhas medo da felicidade, ela não existe". É quase como pedir para não ter medo do papão — ele também não existe.
Não vou entrar em divagações sobre felicidade, já que é um tema que domino tão bem quanto física quântica. E ser feliz é uma coisa que me irrita. Por norma, o que nos faz felizes no momento, é o que nos causa infelicidade no futuro. E isto também é válido para chocolates e sapatos. Quilos e calos, bem entendido.
Não me lembro do nome do filme*. Partilho a música que me deixou tão feliz.
* "As Recordações".