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DESABAFOS

Razoavelmente insuportável…

Razoavelmente insuportável…

DESABAFOS

06
Jun25

Silêncios Que Me Acordam ...


ROMI

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Gosto da noite.
Não é só o silêncio, nem apenas a ausência de compromissos. É outra coisa. Tenho mais energia, sou mais criativa, até as conversas saem mais articuladas. Os pensamentos acordam, as memórias ganham vida, tudo se acende quando a luz do dia se esconde. À noite, sou mais bonita. Não tenho dúvida. A tolerância sobe um patamar, como se também ela preferisse o lusco-fusco.
O único senão é que detesto dormir. Mas adoro acordar.
Acordo cedo, sempre. Mesmo ao fim de semana. E não me incomoda nada. Pelo contrário: gosto da casa em silêncio. Gosto que assim continue durante a meia hora seguinte.
Não é um silêncio absoluto, há uma música baixinha que faz parte dele. O telemóvel permanece sem som. O meu raciocínio ainda está algures, esquecido numa almofada.
E eu gosto disso. Gosto desse tempo em que não se exige pensamento nem resposta. Gosto da penumbra que reflete, envergonhada, a lâmpada de baixa voltagem do candeeiro, que não queria ali estar, por se sentir desautorizado no cumprimento das suas funções.
Que ninguém me fale. Que ninguém me apresse. Preciso dessa espécie de transe, lenta, muito lenta, que me devolve a mim, integralmente. A metamorfose até ser toda eu. E é assim que me permito cantar no banho. E dançar em frente ao espelho enquanto me visto.
E saio para a rua.
Atrevida.
Desinibida.
Vejo-me refletida numa montra e retoco o batom.

 

Foto do meu albúm "Por aí"... 

31
Mai25

Sem Cinzas…


ROMI

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Aos dezasseis anos já fumava... 

Deixar de fumar. Sem dúvida, foi uma das melhores decisões de 2024. Sinto uma liberdade que me faltava; era muito condicionada pelo tabaco. Até o facto de viajar, de frequentar certos espaços, era extremamente limitador. Libertar-me dessa dependência foi  conquistar essa liberdade.

Mas o cigarro foi mais do que um vício. Foi também o abraço em horas vazias, o amparo nos silêncios, nas noites de insónia. Festejou comigo vitórias e amenizou derrotas. Ajudou-me a controlar a ansiedade, a encontrar estabilidade emocional. Foi consolo, escudo, pausa. Quem fuma entende: há dores que só o cigarro consegue ajudar a suportar.

Não romantizo o vício, mas reconheço o conforto, as vezes que me "salvou". E é por isso que, ao celebrar este ano sem fumar, não esqueço o lugar que teve. Não foi só veneno; foi também alívio. Estou verdadeiramente feliz pela escolha de seguir sem ele. E queria conseguir dizer convicta: "Fumar, nunca mais!" 

 

 

30
Mai25

F(r)ases e Conexões...


ROMI

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 “Por muito que me esforce, nunca encontrarei companhia que se compare, sequer, à de um livro menos bom.” A.R. 

 

Em relação às leituras, sou de fases. Ser de fases, para mim, é mergulhar de cabeça em três ou quatro livros seguidos do mesmo autor, quase até à exaustão. Já vivi a minha fase Sven Hassel e a fase Erich Maria Remarque; fui de Eça, de Vergílio Ferreira, de Ferreira de Castro. Tive os meus dias de Leon Uris, de Oscar Wilde, de Saramago, de Mario Puzo, de García Márquez, de Herman Hesse, de Nabokov. Passei por Alves Redol, Alistair Maclean, John Steinbeck, Carl Sagan, António Pina, Carlos Ruiz Zafón, Ernest Hemingway, Émile Zola, Graham Greene, etc., queria mencionar todos, fica para a próxima oportunidade. 

Por sorte ou por conspiração favorável do universo, há tempos, numa ida a Aveiro deparei-me com uma mini feira do livro no Mercado Manuel Firmino. Livros a um euro, na loucura dois. Eu viajo sempre com uma mochila minúscula, mas ali não tive opção: troquei-a por uma maior. Comprei imensos livros, de variados escritores. É nessas alturas, dado o escasso investimento, que aproveito para sair da minha zona de conforto e arriscar em autores e obras que não estejam no rol dos “habitués”. E é sempre uma mais valia, mesmo que algum livro me falhe. Como dizia alguém que muito prezo: “Por muito que me esforce, nunca encontrarei companhia que se compare, sequer, à de um livro menos bom.”

A frase é fria, mas eu percebo-a. Há com cada livro uma conexão que se mantém, mesmo depois do livro fechado. 

Agora estou na fase Richard Zimler. Tenho a sensação que foi ele quem me escolheu...

27
Mai25

A Intrusa...


ROMI

 

 

À minha passagem, os grilos calaram-se . Retomaram a cantilena no segundo seguinte.
Os pássaros não se intimidaram. Diria até que reforçaram o chilrear. 
Talvez para abafar o canto da cigarra, dos patos. Ou das rãs no lago azul.
Azul da cor do céu.
Ao longe, um cão ladrava.
E eu, ali, sem saber com qual deles conversar.
Ali, sem um papel claro a desempenhar.
Uma vírgula mal colocada.
A intrusa.

Até ao anoitecer... 

 

 

 

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Fotos do meu albúm "Por aí..."

 
 

 

25
Mai25

Sebastião Salgado...


ROMI

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Nascimento: 8 de fevereiro de 1944
Falecimento: 23 de maio de 2025
 
 
Fico estranhamente abalada quando morre um escritor, um cantor, um ator, um fotógrafo (...). Enfim, quando partem aqueles que me fazem verdadeira companhia. É como se perdesse um dos meus pilares. Sebastião Salgado, "o homem que escrevia poemas com luz e sombra." Encontrei abrigo na sua obra, nas sombras do preto e branco. Talvez porque ali cabia todo o silêncio que me traduz. Agora, deixou-me mais sozinha a colecionar ausências.
 
Imagem Pinterest
 
 
20
Mai25

Obrigada, José da Xã ...


ROMI

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Mais uma vez, no gesto altruísta que o caracteriza, o  José da Xã ,teve a generosidade de me oferecer o seu último livro: "Pela noite dentro. Contos e Outros Escritos". Valorizo o livro, valorizo o gesto. Tenho a certeza de que não vai desiludir. É um orgulho, uma honra, receber um livro de alguém que gostamos de ler.
Obrigada, José, por mais uma vez me elegeres para a oferta. Obrigada pela escrita de excelência. Obrigada por esta "noite", que agora também é minha. 

As maiores felicidades. O próximo livro espero encontrar numa livraria "perto de mim".

Recebe um abraço, com muita amizade. 

 

 

 

19
Mai25

Anatomia do adeus...


ROMI

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Quem gosta sem razão deixa de gostar pelo mesmo motivo... 

 

Brindo ao desencanto, mais ou menos.
Refugio-me na figura que um defunto plagiou,
sopro a vela, atiço a fogueira,
e a paixão continua medíocre.

No vazio da distância, suspendo-me
num gesto oferecido,
e a meia-noite permanece intacta.
O meio da noite também.

Pretendo atrasar-me, digo eu,
e anuncio o espanto.
Num socorro sem alívio, corro só,
como quem se esgota na despedida
e despida permanece, mas de distância.

Sendo assim, ainda não chorou de saudade
quem se fez de contente.
Volto a anunciar o espanto.

Com quantos gestos de indiferença
se destrói a velha nota de rodapé
onde um dia se escreveu: “ para sempre…”?

E depois, há uma voz rouca que me chama.
Talvez queira saber a quem pertence.
Não ainda.

FOTO: IT´S RAINING MEN (aleluia)

 
17
Mai25

Para o Martin com amor ...


ROMI

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Martin era o meu gato. Desapareceu há dezoito anos. Não há luto para o inacabado. Nem persistência que resista ao compasso do tempo. Mas, sem luto, há um ciclo incompleto que não sei como fechar. E continuo a vê-lo por aí e sei que não é ele, porque não me vê a mim. E continuo a vê-lo em cada canção, em cada trecho, que tem a palavra "amigo". Continuo a resistir à resignação e ao adeus. O Martin não morreu no tempo, mas no silêncio. E esse silêncio continua a miar nas paredes da casa e no meu coração. Não é perda nem presença, apenas ausência sem forma.
 

 

 
"And all are bobbing heads in sync
And all have got a lot on their minds to think about
But you carry on in pictures and in song
And the unmade be you slept in
Where I laid you down to rest one last time
Goodbye, dear friend, goodbye, dear friend "
 

16
Mai25

Moralidade Seletiva ...


ROMI

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Acabo de levar um raspanete porque, segundo o M. Jota, como demasiados doces. Dizia-me ele, muito indignado:
“Por causa dos doces, tenho os triglicéridos a 226  e o máximo é 150!  E eu nem como um quarto dos doces que tu comes!”

Para já, triglicéridos são coisa de rico. Pobre ou morre de morte lenta ou morre de repente, nunca se ouviu dizer que pobre morreu de trigli-não-sei-das-quantas elevados.

Depois, o M. Jota não tem moral para falar, porque fuma. Mas passa duas horas no supermercado para comprar uma simples lata de atum ,ou algo parecido, porque lê os rótulos de tudo o que mexe, à procura do Kapa-não-sei-das-quantas, que diz ser altamente cancerígeno.

Além disso, queixa-se dos ossos todos, cruzes incluídas, e tem a minha idade! Vive no médico. Toma medicação para o não-sei-quê que lhe ataca o estômago, e depois toma medicação para o estômago que lhe ataca o não-sei-quê, e assim sucessivamente. Se não se curasse de nada, talvez não acumulasse tantos efeitos secundários. Mas o M. Jota insiste em morrer saudável, é o que concluo.

E hoje irritou-me. Apeteceu-me estrangulá-lo. Só não o fiz  porque deduzo que tenha medicação anti-estrangulamento e seria inglório o esforço.

Pronto, já desabafei. Cotoveladazinha de amizade, que beijos  são só para quem tem um sistema imunitário de ferro. Morrer saudável é um desperdício, mas enfim... 

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