Silêncios Que Me Acordam ...
ROMI
Gosto da noite.
Não é só o silêncio, nem apenas a ausência de compromissos. É outra coisa. Tenho mais energia, sou mais criativa, até as conversas saem mais articuladas. Os pensamentos acordam, as memórias ganham vida, tudo se acende quando a luz do dia se esconde. À noite, sou mais bonita. Não tenho dúvida. A tolerância sobe um patamar, como se também ela preferisse o lusco-fusco.
O único senão é que detesto dormir. Mas adoro acordar.
Acordo cedo, sempre. Mesmo ao fim de semana. E não me incomoda nada. Pelo contrário: gosto da casa em silêncio. Gosto que assim continue durante a meia hora seguinte.
Não é um silêncio absoluto, há uma música baixinha que faz parte dele. O telemóvel permanece sem som. O meu raciocínio ainda está algures, esquecido numa almofada.
E eu gosto disso. Gosto desse tempo em que não se exige pensamento nem resposta. Gosto da penumbra que reflete, envergonhada, a lâmpada de baixa voltagem do candeeiro, que não queria ali estar, por se sentir desautorizado no cumprimento das suas funções.
Que ninguém me fale. Que ninguém me apresse. Preciso dessa espécie de transe, lenta, muito lenta, que me devolve a mim, integralmente. A metamorfose até ser toda eu. E é assim que me permito cantar no banho. E dançar em frente ao espelho enquanto me visto.
E saio para a rua.
Atrevida.
Desinibida.
Vejo-me refletida numa montra e retoco o batom.
Foto do meu albúm "Por aí"...