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DESABAFOS

Razoavelmente insuportável…

Razoavelmente insuportável…

DESABAFOS

21
Jun25

A Feira do Livro...


ROMI

A Feira do Livro continua a ter magia.
Continua a ser esse lugar secreto onde me reencontro com a parte de mim que gosta de se perder.
Apesar do calor, percorri cada stand, abrigada na sombra das letras, que refresca mais do que qualquer brisa. Passo apenas para cumprimentar, como quem presta homenagem, um silêncio cúmplice, com cheiro a papel.
Na hora da partida. Pudesse eu entrar num livro e ficar a viver lá para sempre. Conversar com parágrafos, adormecer com vírgulas e substituir os pontos finais.
Na impossibilidade, resignada, despeço-me com a promessa de que, para o ano, nos voltemos a reunir.

Como já é habitual, a Ana T. voltou a ser a minha companhia na Feira do Livro.

As escolhas: 

 O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa.
Teleny, Oscar Wilde.
Poemas, Alberto Caeiro.
Orlando, Virginia Woolf.
Um Lugar ao Sol Seguido de Uma Mulher, Annie Ernaux .
O Príncipe, Nicolau Maquiavel.

 

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30
Mai25

F(r)ases e Conexões...


ROMI

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 “Por muito que me esforce, nunca encontrarei companhia que se compare, sequer, à de um livro menos bom.” A.R. 

 

Em relação às leituras, sou de fases. Ser de fases, para mim, é mergulhar de cabeça em três ou quatro livros seguidos do mesmo autor, quase até à exaustão. Já vivi a minha fase Sven Hassel e a fase Erich Maria Remarque; fui de Eça, de Vergílio Ferreira, de Ferreira de Castro. Tive os meus dias de Leon Uris, de Oscar Wilde, de Saramago, de Mario Puzo, de García Márquez, de Herman Hesse, de Nabokov. Passei por Alves Redol, Alistair Maclean, John Steinbeck, Carl Sagan, António Pina, Carlos Ruiz Zafón, Ernest Hemingway, Émile Zola, Graham Greene, etc., queria mencionar todos, fica para a próxima oportunidade. 

Por sorte ou por conspiração favorável do universo, há tempos, numa ida a Aveiro deparei-me com uma mini feira do livro no Mercado Manuel Firmino. Livros a um euro, na loucura dois. Eu viajo sempre com uma mochila minúscula, mas ali não tive opção: troquei-a por uma maior. Comprei imensos livros, de variados escritores. É nessas alturas, dado o escasso investimento, que aproveito para sair da minha zona de conforto e arriscar em autores e obras que não estejam no rol dos “habitués”. E é sempre uma mais valia, mesmo que algum livro me falhe. Como dizia alguém que muito prezo: “Por muito que me esforce, nunca encontrarei companhia que se compare, sequer, à de um livro menos bom.”

A frase é fria, mas eu percebo-a. Há com cada livro uma conexão que se mantém, mesmo depois do livro fechado. 

Agora estou na fase Richard Zimler. Tenho a sensação que foi ele quem me escolheu...

20
Mai25

Obrigada, José da Xã ...


ROMI

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Mais uma vez, no gesto altruísta que o caracteriza, o  José da Xã ,teve a generosidade de me oferecer o seu último livro: "Pela noite dentro. Contos e Outros Escritos". Valorizo o livro, valorizo o gesto. Tenho a certeza de que não vai desiludir. É um orgulho, uma honra, receber um livro de alguém que gostamos de ler.
Obrigada, José, por mais uma vez me elegeres para a oferta. Obrigada pela escrita de excelência. Obrigada por esta "noite", que agora também é minha. 

As maiores felicidades. O próximo livro espero encontrar numa livraria "perto de mim".

Recebe um abraço, com muita amizade. 

 

 

 

10
Mai25

Antes que o café arrefeça...


ROMI

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 Antes que o café arrefeça, de Toshikazu Kawaguchi.
Um livro para ser lido na véspera de um feriado, à noite, sem pressa... e sem o sorriso patético que mantive da primeira à última página. Uma história simples, em termos de linguagem, com uma profundidade emocional despretensiosa. Criei uma certa empatia com as variadíssimas personagens.

É um livro honesto: conforta sem iludir. Quase uma reflexão disfarçada de história, um exercício de empatia silenciosa com personagens que, embora breves, parecem familiares. Também não é um “livrão”. Diria que funciona melhor como metáfora do que como enredo.

E mais não digo, para não ser acusada de spoiler.

“A aceitação pode ser mais libertadora que a correção.”
Li isto algures, aqui, faz todo o sentido.

Mas tenho de ir, antes que o café arrefeça.

 

 

06
Mai25

Retiro de Leitura...


ROMI

Porque eu mereço...

 

São vários os filmes e livros que falam em retiros para escritores. Dada a impossibilidade, não sou escritora, pesquisei e descobri que existe o conceito de retiro para leitores. Como não gosto de andar aos pares, permiti-me um retiro de leitura só para mim. Arrumei silêncios na bagagem, um só livro, um bloco de notas para rabiscar pensamentos e memórias.

Instalei-me no Hotel Vila Galé, em Colares. Foi um reencontro comigo mesma, feito de páginas, pausas e sossego. Lia à beira da piscina ou no bar do hotel. O ponto alto? Descobrir um espantalho a guardar a horta. Sempre tive uma fixação por espantalhos (a história da minha vida). A varanda do quarto, a que chamo esplanada, estava reservada para escrever. Uma mesa e uma cadeira bastavam para que o momento coubesse inteiro num parágrafo. Entre rascunhos e rabiscos, sorvia o tempo como quem aprende a respirar devagar.

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Fui simpática, diria mesmo uma verdadeira tagarela. Acalmei os ânimos quando o alarme disparou, uma enorme azáfama no corredor, e a experiência dizia-me que mais um incauto fumador tinha ignorado as regras. O que se veio a confirmar. Participei numa caminhada com um grupinho de hóspedes. Jogámos bilhar. À meia-noite, tal como uma Cinderela, cuidava em não deixar nenhum sapatinho para trás e, antes que me transformasse em abóbora, recolhia aos aposentos.

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A rede de hotéis Vila Galé tem como uma das suas características marcantes a decoração dos espaços, quartos e demais zonas com temas culturais portugueses. No Vila Galé em Colares (Sintra), o tema é a própria história e tradições da vila.

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No regresso a casa, percebi que deixara lá um pedaço de mim. Um dia, terei de voltar para o recuperar.

 

 

05
Mai25

"História de uma Fraude"...


ROMI

"História de uma Fraude"    E. Lockhart

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É um livro para ler na praia, num dia de vento, numa quarta-feira da parte da tarde. Escrita ligeira, com avanços e recuos como as ondas do mar. Não obedece a uma ordem cronológica, o que acaba por quebrar a fluidez da história, mas não deixa de ser a parte mais atrativa da escrita.  O elemento central perdeu-se. Está lido. Não me surpreendeu nada, não me acrescentou nada. Vai para a estante, imaculado e puro, dado que não sublinhei uma única frase. Li algumas críticas e não me revi em nenhuma. Elogios ao exagero. Não é uma obra-prima; é apenas um livro que queria ser grande, mas ficou aquém. É um rascunho ambicioso. Caso tivesse sido a minha vizinha do sexto esquerdo a escrevê-lo, a minha opinião seria diferente. É tudo uma questão de expectativas, certo?

 

 

27
Abr25

"Naquele Dia"...


ROMI

Depois de muito recomendado em grupos de leitura que sigo e de críticas bastante favoráveis, cedi à tentação e comprei "Naquele Dia", de Laura Alcoba. Uma história forte, emotiva e baseada em factos reais, com potencial para tocar profundamente quem lê. E, de facto, o enredo trágico, humano e incontornável, tinha tudo para o ser.
Infelizmente, senti que a escrita não acompanhou a gravidade do tema. A forma como a autora optou por contar a história pareceu-me demasiado leve, quase superficial, como se quisesse evitar o peso do sofrimento real que ali existiu. Em vez de se deixar atravessar pela emoção, pelo silêncio denso da dor, preferiu a distância. E eu, como leitora, senti-me traída por essa escolha.
Os últimos livros que tinha lido foram de Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco; sei que a fasquia estava muito alta. Com eles, a palavra curva-se com respeito diante do sofrimento humano. E aqui, faltou isso: foi o desrespeito total pelo drama. Faltou densidade, faltou verdade, faltou alma. A desilusão foi grande, sobretudo pela forma como um tema tão sério foi tratado com tanta ligeireza.
 
(Posso ter exagerado um bocadinho, mas faz de conta que não se notou nada, xiuuuu)
 
 
 

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23
Abr25

Livros Emprestados...


ROMI

 

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Não gosto de emprestar livros, nem de ler livros emprestados.
Tive de abrir uma exceção. Os livros estão a um preço incomportável e, para quem gosta de ler, é uma despesa que pesa.
Arriscaria dizer que, pela primeira vez, estou a ler um livro emprestado. Combinei com a minha amiga Antónia: dada a coleção que ambas possuímos, não faz sentido continuarmos a comprar livros.
Somos pessoas responsáveis. Sabemos que um livro emprestado e não devolvido, mal comparado, é como quando nos desaparece um animal de estimação — ficamos sempre com a esperança de que regresse a casa.

É nessa base que começamos uma nova etapa. Para mim, muito estranha. Já protegi a capa. Tenho mil cuidados.
Muito respeito pela pessoa que mo confiou — e pelo livro em si.

Um livro estará sempre por mim e para mim.
É a companhia quando tudo o resto falha. O passaporte que me transporta para o lado de lá e me traz de volta.

Não é coisa pouca.
É conforto. É a luz do farol que me guia.
Que me dá a mão. Que me adormece.

Hoje, no Dia Mundial do Livro, celebro este gesto simples e imenso: abrir um livro e deixar-me levar.

 
 
 
 
 
 
 
 
28
Mar25

Sorrir e acenar...


ROMI

 

 

Congresso Futurológico, Stanislaw Lem

 

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Teria 16 anos quando li este livro. Hilariante, a primeira parte, cerca de metade da obra, é de rir às lágrimas. Talvez pelo absurdo das situações. Sob o efeito de alucinógenos, as pessoas ostentavam uma invejável boa disposição, mesmo perante as contrariedades. Se alguém pisava um pé, a vítima agradecia e ainda suplicava que lhe pisassem o outro. Pedir desculpa? Desnecessário. O gesto era recebido quase como um privilégio. Uma cordialidade ao extremo.

E porque me lembrei do livro?

Porque hoje, mesmo sem alucinógenos, parece que nos resta fazer o mesmo: ignorar. As pessoas andam amargas, descarregam frustrações no trânsito, nas filas, nos corredores, nos comentários das redes sociais. Hoje em dia, a inveja é um desporto digital. Criticam, provocam, como se, ao  diminuir o outro, conquistassem alguma superioridade – ou, pelo menos, a ilusão dela. Talvez esperem que reajamos, que nos inquietemos. Mas não. Há que sorrir e acenar.   Tal como no livro de Lem, onde a felicidade forçada era uma forma de minimizar atitudes menores. 

De realçar o poder duradouro da boa literatura para nos fazer pensar sobre nós mesmos e a sociedade em que vivemos.

20
Mar25

Entre Textos e Pretextos...


ROMI

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Há tempos escrevi   A VELHINHA QUE ROUBAVA LIVROS      para justificar – acho que a mim própria – o porquê de comprar tantos livros. Sei que continuo a comprar mais do que alguma vez terei capacidade de ler. A menos que viva até aos 100 anos, o que seria uma maçada. Sempre achei romântico morrer nova. Não sei se ainda vou a tempo.

Recentemente, deparei-me com este excerto:

"Há existências inúteis, para quem a vida se reduz ao estreito âmbito formado pelas paredes que as cercam. Vivem por hábito. Sabem apenas exprimir-se com seis palavras rançosas. São um misto de papelada, de números, de ideias estúpidas e vãs, de frases gastas e falsas."
A Farsa, Raul Brandão

Decidi que tinha de comprar A Farsa. E fiquei feliz ao descobrir que já tinha Raul Brandão em casa.

A sua escrita tem um forte carácter de prosa poética. Ele combina uma narrativa fragmentada e introspectiva com um uso intenso de imagens, metáforas e musicalidade, aproximando-se muitas vezes da poesia. Impossível resistir-lhe. Completamente rendida.

O carteiro já não entrega cartas de amor. Mas pareceu-me injusto vir de propósito entregar-me um único livro e, muito contrariada (o que eu faço pelo carteiro), para além de A Farsa,  comprei, Antes Que o Café Arrefeça, de Toshikazu Kawaguchi, e Os Rapazes que Desafiaram Hitler, de Phillip Hoose.

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A Ana Luísa, no gesto altruísta de quem vai morar para longe e não me quer triste, oferece-me quatro livros.

Isto para dizer que, se um dia  ouvirem dizer que ando a roubar livros, é mesmo por ser velhaquinha (como a Tézinha do Sr. Sebastião, de quem falarei mais tarde) – e não por necessidade. Já que tenho imensos livros, bem entendido. 

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Beijos a quem é de beijos, abraços a quem é de abraços. Eu, é mais é livros... 

 

 

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