A MÁSCARA DO DIA...
ROMI
Altero os ponteiros do relógio, aleatoriamente, e engano o tempo. É pela hora alterada que me rejo. Não importa se é manhã e para mim já é tarde. Não importa se é noite e para mim já é amanhã. Por mim seria uma mulher parada num tempo que há-de vir. Enquanto não vem tento não dar por mim.
Tenho as mãos macias e a emoção inerte, vou deixando o meu perfume por aqui, por ali e mais além. Respiro o adeus como quem rejeita palavras de amor.
E a chuva miudinha, num gesto altruísta, dissimula gotículas que teimam cair, pelo tempo que se perde à espera do tempo que desenfreadamente vai por aí e num desatino não chega ao tempo que aguardo. O tempo não assina contrato de retorno, não volta para trás, impedindo-me de o deter num passado que está ali, não muito distante daqui...
Ponho a máscara do dia… gosto de mim depois das dez. Convida-me para jantar, desarruma os meus lençóis de linho, sem promessa de reencontro...
imagem pinterest (Gustav Klimt, O Beijo)