01
Jun23
A NOTÍCIA DA MINHA MORTE...
ROMI
" A notícia da minha morte foi um exagero". Disse José Cardoso Pires, no livro "De Profundis, Valsa Lenta". Caso eu escrevesse um livro, diria que a notícia da minha depressão também foi um exagero. Não me apetece fingir que não é dor, a dor que deveras sinto. O poeta é que é bom fingidor, não eu. E estar com pessoas maça-me de morte. Querem a todo o custo animar-me, inglório o esforço. Inglório e irritante. Sinto-me um bebé, rodeado de velhas, a fazerem-me cutchi cutchi no queixo. Diagnóstico, está com uma depressão.
Não, não estou com uma depressão. Quero imergir para emergir. Quero me isolar, para me recuperar. Quanto tempo preciso, não sei. Não conto o tempo pelos dedos. Eu já tive uma depressão. Conheço os sintomas pelo barulho que faz ao chegar. Não a curei com palmadinhas nas costas, nem com jantares alvoroçados. Aliás, gosto de ambos, mas não para fins terapêuticos.
Eu sei que fui dramática na reação ao livro do José, mas eu tinha acabado de ler Anna Karenina, aquele dramalhão, quem leu o livro percebe. E preocupei-o, mea culpa. Mas é um amigo que estimo muito, é boa pessoa e ainda nos havemos de rir disto.
As minhas fases do luto: não vestir preto nem branco, isolar-me de pessoas, permitir-me sentir que estou demasiado triste, destroçada mesmo, sem necessidade de camuflar sentimentos. Seguir o conselho do meu ex namorado, que é psicólogo, embora não exerça, e ocupar a mente. Se eu seguisse, tão à risca, conselhos passados, tinha escrito namorado sem "ex". Mas ele também é muito chatinho, não se perdeu nada. Quer dizer, a não ser uns olhos verdes e 1,90m. À conta da recomendação, já tirei vários cursos online. Caso não me inscreva num outro estarei emergida. Vestirei as cores que realmente gosto, retomarei o convívio com amigos.
Como recebi algumas mensagens de preocupação, espero que fiquem tranquilos. Só preciso de estar isolada, na minha casinha, poupar-me de conversas de circunstância e de risos esforçados.
Morreram-me dois AMIGOS, coisa mais triste não há...