16
Mar25
Amigos improváveis...
ROMI
Eu e Camilo Castelo Branco não somos os melhores amigos. E, no entanto, tento tanto sê-lo. Nunca jantou comigo, é certo. Também não o reservo para os serões. Guardo-o para as viagens, porque aí não posso pô-lo de parte e pegar noutro livro. Mas põe-me os nervos em franja.
Quando um início me conquista, congratulo-me: “Eu sabia que ia gostar de um livro seu, Sr. Camilo.” Mas logo me arrependo. Sofro horrores no caminho até ao fim. E, apesar de tudo, volto sempre. Porque há algo que me desafia, que me exaspera, que me faz insistir e continuar a comprar os seus livros. Há, em Camilo, uma força impossível de ignorar.
Vulto enorme da cultura portuguesa, um escritor que viveu à flor da pele, que traduziu em palavras as paixões e as dores humanas como poucos.
Se ao menos me levasse pela mão, em vez de me arrastar por labirintos de frases tortuosas e desabafos cáusticos. Mas talvez seja essa a sua essência. Camilo não facilita, nem na vida, nem na literatura. E eu, teimosa, continuo a dar-lhe novas oportunidades.
"A Viúva do Enforcado”. A última aquisição. Viajámos juntos e até correu bem. Companhia de excelência. Quase amigos...