Compasso de espera...
ROMI

Ainda não passou um mês desde que a minha gata partiu, e já perdi a conta às vezes que me sugeriram adotar outra. Como se a sua ausência fosse um mero inconveniente: uma camisola que se rasgou, um sapato que descolou e urge substituir. Quem nunca criou uma relação verdadeira com um animal, quem nunca partilhou brincadeiras, afeto e rotinas, dificilmente compreende que a perda não é “só um gato”. É família. É a ausência de uma companhia que, durante quinze anos, fez parte da minha vida. A sugestão de “adotar logo outro” é fria, porque ignora o luto, a memória e o espaço que ainda está dolorosamente preenchido, o lugar que é dela. É uma ligação intemporal: não se apaga, não se substitui. Ninguém substitui um familiar que morre.
Os nossos animais não são objetos de estimação; são seres com quem partilhamos amor. Eu sei que não é por maldade; é antes uma forma de cuidado, uma tentativa de me oferecerem companhia no vazio que ficou. Um remendo, como se um novo afeto pudesse costurar de imediato a ausência.
Eu preciso de tempo. Tempo para honrar a vida que partilhei com a minha gata. A minha menina. A minha Luna. E, por agora, não me peçam: não teria capacidade para amar outra.

