Entre Textos e Pretextos...
ROMI
Há tempos escrevi A VELHINHA QUE ROUBAVA LIVROS para justificar – acho que a mim própria – o porquê de comprar tantos livros. Sei que continuo a comprar mais do que alguma vez terei capacidade de ler. A menos que viva até aos 100 anos, o que seria uma maçada. Sempre achei romântico morrer nova. Não sei se ainda vou a tempo.
Recentemente, deparei-me com este excerto:
"Há existências inúteis, para quem a vida se reduz ao estreito âmbito formado pelas paredes que as cercam. Vivem por hábito. Sabem apenas exprimir-se com seis palavras rançosas. São um misto de papelada, de números, de ideias estúpidas e vãs, de frases gastas e falsas."
— A Farsa, Raul Brandão
Decidi que tinha de comprar A Farsa. E fiquei feliz ao descobrir que já tinha Raul Brandão em casa.
A sua escrita tem um forte carácter de prosa poética. Ele combina uma narrativa fragmentada e introspectiva com um uso intenso de imagens, metáforas e musicalidade, aproximando-se muitas vezes da poesia. Impossível resistir-lhe. Completamente rendida.
O carteiro já não entrega cartas de amor. Mas pareceu-me injusto vir de propósito entregar-me um único livro e, muito contrariada (o que eu faço pelo carteiro), para além de A Farsa, comprei, Antes Que o Café Arrefeça, de Toshikazu Kawaguchi, e Os Rapazes que Desafiaram Hitler, de Phillip Hoose.
A Ana Luísa, no gesto altruísta de quem vai morar para longe e não me quer triste, oferece-me quatro livros.
Isto para dizer que, se um dia ouvirem dizer que ando a roubar livros, é mesmo por ser velhaquinha (como a Tézinha do Sr. Sebastião, de quem falarei mais tarde) – e não por necessidade. Já que tenho imensos livros, bem entendido.
Beijos a quem é de beijos, abraços a quem é de abraços. Eu, é mais é livros...