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DESABAFOS

Razoavelmente insuportável…

Razoavelmente insuportável…

DESABAFOS

02
Nov25

Fragmentos de Luz...


ROMI

 

Escrito aos treze anos, este texto nasceu de uma noite em que o céu parecia guardar segredos que me pertenciam. Faltava uma estrela, a mais luminosa, e dessa ausência nasceu o desejo de compreender o que brilha e o que se apaga. Desde então, aprendi com as estrelas cadentes que a queda, por muito que nos custe, é sempre iminente. O melhor é deixar ir, render-se à beleza breve do instante antes de desaparecer. 

Resgatado da gaveta, hesitei em publicar este esboço de um imaginário que viria a persistir, quase um protótipo de desabafo.  

 

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Quando o dia se tingiu de negro, procurei-te. Uma luz difusa acenou-me, eras tu. Para quê pontos de referência a orientar-me, se primeiro que eu descobres-me tu? Não és a maior, és a mais brilhante. Sobressais entre as outras. Talvez o motivo esteja nesse raio fugaz que lanças e me atinge quando, num sussurro, pronuncio a palavra "amo-te". E amo.Tu, não és uma estrela. Pertences a um planeta cujo nome ainda não foi inventado. És a luz de um corpo decomposto pela Terra. És vítima de um Mago ciumento. Mas não és uma estrela. Hás de visitar a Terra. Hás de encarnar num corpo. Hás de quebrar a magia.
Naquele fim de dia tingido de negro, procurei-te. Uma luz insípida, uma luz apagada, uma luz trocista, uma luz arrogante... milhares de luzes cruéis ignoraram-me. Aquela luz brilhante não me acenou. Não me lançou um raio fugaz. Não me procurou.
Os pontos de referência falharam. Apontaram uma daquelas luzes insignificantes, inúteis, que antes designei.
E eu, abandonada, traída, chorei. Olhei o céu que se transformou em caos. Uma nuvem negra toldou aquelas estrelas insignificantes. Relâmpagos trovejantes rasgaram o mesmo toldo e grossas gotas de água desprenderam-se, desabando impiedosamente numa tempestade de som e fúria.
Chorei, abandonada, traída. Sussurrei a palavra amo-te. Gritei a palavra "amo-te". Um raio fulminou-me, reduziu-me a pó. Aquele extraterrestre passou, olhou-me e não me viu. A morte passou, olhou-me e viu que eu nem alma tinha. O Mago passou e escoou entre os dedos o pó que estava ali mesmo, pertinho de mim.
Um vento ciclónico acolheu-me, elevando-me no ar, rumo ao céu. Uma luz de esperança nasceu em mim e transformou-se (transformou-me), numa daquelas estrelas insípidas, insignificantes, ignoradas por ti.
 

Foto tirada por mim no evento "Meet Vincent Van Gogh"

 

 

 

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