18
Jun23
MEMÓRIAS...
ROMI
A casa da minha avó não tinha telhados de vidro. Mas não é de uma casa escura que me lembro. Lembro-me da gargalhada espontânea, cristalina, que lhe empurrava a cabeça para trás, para depois mergulhar sobre o ombro, a tentativa de ocultar a cara com o braço. Fazia-se silêncio, e só os movimentos, quase peristálticos, denunciavam que a gargalhada não tinha terminado. Eu olhava-a em apneia, fascinada, quando fosse grande queria rir assim.
Não é só da gargalhada, ímpar, que me lembro. Lembro-me da luz mortiça do candeeiro a petróleo, do cheiro característico que emanava e cujo acesso me estava proibido. Era a minha avó que o segurava, enquanto eu me preparava para dormir . Depois saía, como uma luz que se apaga.
Fazia-me meias de renda e vestidos de chita fina, que eu estreava nas festas da aldeia. Curava-me as mazelas com beijinhos e dizia: já passou...
Não é de uma casa escura que me lembro. É de uma gargalhada que não me esqueço. A história da princesa que me embalou, a luz mortiça do candeeiro a petróleo que se afasta, como uma luz que se apaga. Mas que nunca se apagou...
IMAGEM PINTEREST