Moralidade Seletiva ...
ROMI
Acabo de levar um raspanete porque, segundo o M. Jota, como demasiados doces. Dizia-me ele, muito indignado:
“Por causa dos doces, tenho os triglicéridos a 226 — e o máximo é 150! E eu nem como um quarto dos doces que tu comes!”
Para já, triglicéridos são coisa de rico. Pobre ou morre de morte lenta ou morre de repente — nunca se ouviu dizer que pobre morreu de trigli-não-sei-das-quantas elevados.
Depois, o M. Jota não tem moral para falar, porque fuma. Mas passa duas horas no supermercado para comprar uma simples lata de atum — ou algo parecido — porque lê os rótulos de tudo o que mexe, à procura do Kapa-não-sei-das-quantas, que diz ser altamente cancerígeno.
Além disso, queixa-se dos ossos todos, cruzes incluídas, e tem a minha idade! Vive no médico. Toma medicação para o não-sei-quê que lhe ataca o estômago, e depois toma medicação para o estômago que lhe ataca o não-sei-quê, e assim sucessivamente. Se não se curasse de nada, talvez não acumulasse tantos efeitos secundários. Mas o M. Jota insiste em morrer saudável — é o que concluo.
E hoje irritou-me. Apeteceu-me estrangulá-lo. Só não o fiz porque deduzo que tenha medicação anti-estrangulamento e seria inglório o esforço.
Pronto, já desabafei. Cotoveladazinha de amizade, que beijos são só para quem tem um sistema imunitário de ferro. Morrer saudável é um desperdício, mas enfim...