30
Set25
O meu Conde...
ROMI
Em arrumações, o quarto que era da Luna.
A caixa das fotografias, que guardo sem qualquer significado. Passado morto.
Sempre quis entender as pessoas que têm fotos espalhadas pela casa.
Penso desfazer-me de umas quantas: as memórias felizes não me tornam mais feliz.
Lei do desapego, é este o espírito em dia de arrumações.
Eu e o MJ debaixo de um moinho, no parque de campismo da Ericeira.
De Porto Côvo.
De Algeciras.
CCL.
Eu e o MJ gostávamos muito de acampar, concluo. Lixo.
A festa de aniversário de A, B, C… até ao fim do abecedário. Lixo.
Chuva de arroz e pétalas abate-se, num agouro de felicidade, sobre os noivos à saída da igreja. A, B, C… até ao fim do abecedário. Lixo.
Lixo.
Lixo.
A caixa quase vazia.
E surge a Foto.
Uma amizade improvável, marcada por uma diferença de quarenta anos. Talvez mais.
Suscitou dúvidas. Gerou rótulos. Como se fosse mais uma Lolita de Vladimir Nabokov.
A nossa cumplicidade, tranquila, ignorou-os.
Meu salvador.
Meu confidente.
Ríamos. Conversávamos. Passeávamos. Muito.
Foi o único a quem permiti ler as minhas primeiras histórias e os primeiros poemas.
Ficou com alguns rascunhos em papel.
O Amigo.
Pudesse eu, numa palavra, transmitir todo o carinho quando o vejo, em pensamento, triste, por já não estar à distância de um abraço.
O Conde.
O meu Conde…
