Olinda...
ROMI
Olinda, a única água que suportava era a do mar e a que viesse diretamente do céu. Os únicos pássaros que conhecia eram as gaivotas, e o seu meio de transporte era o sonho naufragado, encalhado, que se movia ao sabor da imaginação. Era intolerante a tudo o que tivesse tecto.
Nem sempre foi assim. Houve tempos em que tentou escalar a linha da normalidade, sempre em crescendo. No entanto, a normalidade tem prazo de validade e capacidade de se renovar, inovando. Sem estabilidade, perde-se o equilíbrio, e Olinda sentiu-se ultrapassada, rasgada, como se fosse papel.
Não passou a viver do ar, mas sim do que lhe davam. E à noite, dormia sob as estrelas, mais numerosas do que as que qualquer hotel pudesse ostentar.
Mas Olinda não estava feliz. Ninguém é feliz sozinho. Ou melhor, ninguém é feliz sem alguém a quem exibir a felicidade. Esse pensamento fez com que se sentisse uma pessoa normal. E rejeitou-o.
Abrigada sob a espessa capa da designação social "Sem Abrigo", sentia-se protegida pela permissão de poder ser louca, de se estatelar sem rede, desafiando a capacidade de renovação do que é considerado normal, com a secreta esperança de que o normal continue a ostracizar a diferença.
Hoje, disse-me a mãe dela, seria o aniversário de Olinda. Não tem presentes, mas tem asas e todo um céu para voar...
Descansa em paz.