Quebras e reencontros ...
ROMI
Levanta, aperta o casaco. Senta, desaperta o casaco. Gesto repetido vezes sem conta, quase ao ritmo do tique-taque do relógio. Deixa-me exausta só de olhar. Vingo-me, seguro o copo pelo bojo, não pelo pé. Olho-o desafiadora, sei que isso o irrita de morte. "Não é por etiqueta, é que está a aquecer o vinho", dizia sempre. E se for vinho chambreado, já posso?
O copo nas minhas mãos era um muro. Um gesto pequeno, quase imperceptível, que dizia: "Hoje não me venhas com as tuas regras. Não somos compatíveis." FIM.
Alguns anos depois, num sítio improvável, Cascais, e inesperadamente o reencontro. O MLM, cabelo grisalho, sorriso rasgado quando me viu. Não sei se quebrou o protocolo, naquele abraço de 1.90m, com aroma de Hugo Boss. Almoçamos juntos. Um almoço informal como as minhas calças de ganga permitiam. O ritual do casaco já não me irritou. O desgaste de uma relação manifesta-se nessas coisas banais. Agora estávamos libertos.
O passeio pela cidade, ver as luzes e o mar. A despedida. Confiar na lei das probabilidades, um possível reencontro.
Sentidos opostos, olhei para trás, num último adeus. Uma senhora nunca olha para trás.
Um pensamento renovado: "Hoje não me venhas com as tuas regras”...