29
Abr25
Reclusão sem Nomes Próprios...
ROMI
Escrito em tempos de pandemia, 20 de março de 2020:
(De repente, é como se tivéssemos uma pistola apontada a nós. Tipo roleta russa, não sabemos se a bala está engatilhada na câmara. Sensações novas, com as quais não estamos habituados a lidar.
É o medo. É também o medo de ter medo, já que é tão limitador. É também a quebra da rotina social.
Para quem vive só , e gosta, passa a sentir-se isolado, desamparado, solitário. Que é diferente de ser sozinho.
É como se a solidão, outrora a nossa melhor amiga, tivesse morrido, com a promessa de ressuscitar. Só não se sabe quando.
Reclusão, é isso que se sente quando essa nossa amiga morre.
Há tempos, li um livro de Soeiro Pereira Gomes (se a memória não me trai, pode ter sido de outro escritor), em que uma das personagens, num deserto, cansado, cheio de sede, correu horrores porque viu uma figura ao longe. E quando a alcançou, percebeu que tinha feito aquele penoso trajeto só para lhe dizer "boa tarde".
Foi recebido com indiferença.
Mas a felicidade que sentiu... bastou-lhe.
Hoje senti-me um pouco essa personagem.
Sempre que o telemóvel tocava, corria para atender.
Quem lida comigo sabe que isto é raro em mim, sou mais de devolver chamadas do que de atender. Por norma, até está sem som.
Ana T., Rui, Paulinha, Fátima, Aurora, Mário, Luís, F. João, Antónia, Ritinha...
Não os pude abraçar, mas a felicidade que senti ao ouvir a vossa voz no lado de lá, bastou-me.)
É o medo. É também o medo de ter medo, já que é tão limitador. É também a quebra da rotina social.
Para quem vive só , e gosta, passa a sentir-se isolado, desamparado, solitário. Que é diferente de ser sozinho.
É como se a solidão, outrora a nossa melhor amiga, tivesse morrido, com a promessa de ressuscitar. Só não se sabe quando.
Reclusão, é isso que se sente quando essa nossa amiga morre.
Há tempos, li um livro de Soeiro Pereira Gomes (se a memória não me trai, pode ter sido de outro escritor), em que uma das personagens, num deserto, cansado, cheio de sede, correu horrores porque viu uma figura ao longe. E quando a alcançou, percebeu que tinha feito aquele penoso trajeto só para lhe dizer "boa tarde".
Foi recebido com indiferença.
Mas a felicidade que sentiu... bastou-lhe.
Hoje senti-me um pouco essa personagem.
Sempre que o telemóvel tocava, corria para atender.
Quem lida comigo sabe que isto é raro em mim, sou mais de devolver chamadas do que de atender. Por norma, até está sem som.
Ana T., Rui, Paulinha, Fátima, Aurora, Mário, Luís, F. João, Antónia, Ritinha...
Não os pude abraçar, mas a felicidade que senti ao ouvir a vossa voz no lado de lá, bastou-me.)
Ontem tive uma sensação muito parecida. Estupidamente.
Umas horas sem luz. Qual o drama?
Sem telefonemas. E eu, que detesto falar ao telefone.
O serão do costume: eu, um livro, o bloco de notas.
Mas sem café. Sem chá. Sem um jantar quente
(Quem não quer gás em casa tem destas coisas.)
Sem música de fundo.
E de repente tudo ficou maior. Mais vazio. Mais frio.
Acho que foi a incerteza do que vinha a seguir que me traiu. Que me angustiou.
Não foi a escuridão. Não foi a solidão...