Sombras em azul ...
ROMI
Um pensamento parado, de cor azul. Azul da cor do silêncio que a chuva lavou.
Um desejo inerte, ao relento, como uma página riscada. Ou o copo meio cheio. O relento também é azul, como o pensamento, num diálogo a duas sombras.
Incoerências cronológicas na ausência. Desconcertante como um rio que recusa desaguar porque tem medo do mar.
É no ontem que semeamos os momentos que colhemos, mas continuaremos a dizer até amanhã, até logo, até depois—nunca até ontem.
Porque um amo-te implica um eu também. Porque sim. Ou simplesmente porque sei lá.
Vaguear por aí, desabitada de olhares vagos, recolhendo beijos deixados no tempo. Prendendo abraços. Libertando memórias—azuis—da cor do pensamento. E do relento. O relento é azul.
Reflexo esbatido, como sombras envergonhadas que as nuvens tocam ao sabor da imaginação.
Perco-me e reencontro-me nesses afetos, para logo desistir, diluída no fumo das palavras queimadas. Que a verdade queimou.
Transfiro-me definitivamente para o lado azul, sem nada a declarar.
E, em papel timbrado, registo o abraço, para que seja eterno.
Como é eterno o pensamento ao relento, o lado azul do silêncio, que a chuva lavou.
Foto tirada na Nazaré