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DESABAFOS

Razoavelmente insuportável…

Razoavelmente insuportável…

DESABAFOS

25
Out25

Falácias e Chocolate Quente...


ROMI

 

Se viveria num país tropical? Sem hesitar, sim, sempre.
Mas não deixo de ter um certo apreço por estes dias cinzentos, de chuva fina. Sem vento.
Não gosto do vento, na mesma proporção em que ele não gosta de mim. A nossa relação é de mútua e fria indiferença. Pode considerar-se esta afirmação uma falácia patética, admito. Um erro de lógica que atribui sentimentos a algo inanimado. Mas eu e as falácias convivemos bem. E eu sei sempre quem gosta, ou não, de mim: sejam animais, coisas, pessoas, estados meteorológicos, meses, dias, horas ou segundos. Um eco que me sussurra "bem-vindo", ou uma sombra me adverte: "passa à frente.” E eu obedeço.

Hoje, chove como eu gosto: sem frio e sem vento. Saí para a rua, toda eu sorrisos, debaixo daquela chuva que molha parvos. E molhou-me a mim.
De volta a casa, preparei um chocolate quente, pus Tom Waits  a cantar baixinho e abri um livro. A chuva, lá fora, acompanhava o som da voz e o virar das páginas. E, por um breve instante, senti que o mundo inteiro respirava comigo.

28
Fev25

Quando, Simplesmente, Chove...


ROMI

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Já aqui estive antes.
Não me refiro ao lugar…
Refiro-me ao instante.
Chovia…
Como acontece muito quando chove.
A chuva torna a noite  silenciosa.
 
Gosto mesmo de momentos!
Quero apenas cinco minutos…
 
Vou só ali apanhar chuva.
O momento em que me abraço
E fico simplesmente  deixar a chuva acontecer.
Cada gota chama o meu nome.
 
Depois, molhada, desnorteada
Finjo que é domingo
E invento mais um momento
Até a chuva passar.
 
Só quero cinco minutos.
 
A solidão é a única companhia quando, simplesmente, chove.
Hoje, simplesmente, chove.
 

 

28
Nov22

PAUSA PARA UM CAFÉ...


ROMI

A frase "vamos tomar um café" tornou-se banal. Um acto de socialização bem aceite e que faz sentido praticar até com quem mal conhecemos ou acabámos de conhecer. Tomar um cafézinho é o mote para estabelecer uma relação, ainda que breve. Há dias, chovia torrencialmente, dei abrigo, no meu minúsculo chapéu de chuva, a um senhor que estava completamente desprotegido de artefactos impermeáveis. Rimos imenso, conversámos o possível e atravessámos estradas com a água pelo tornozelo. Encharcados os dois, na cumplicidade ímpar de quem sabe que o chapéu de chuva não serve de nada quando um dilúvio desaba sobre nós. Passar por isso sozinha seria uma maçada, partilhar a situação com um estranho foi um alívio. Chegados ao destino, estação de comboios, o inevitável convite: "Vamos tomar um café?"- Podia ter-me pedido em casamento, convidar-me para uma viagem à volta do mundo, podia ter-me até convidado, num plano mais radical, surfarmos a onda da Nazaré. Mas não! Convidou-me para um café. Tomar um café é coisa séria, não se faz por dá cá aquela palha. Não se toma um café encharcado e à pressa, quando se espera um comboio. Tomar um café obedece a um ritual e preceitos que não estavam reunidos na altura. É banal tomar um café só porque sim, mas o café que realmente nos aquece, baseia-se, simbolicamente, no pacto de estabelecer laços. Ou de dar continuidade a laços estabelecidos.  É um compromisso.

Façam-se 60 segundos de silêncio pelos cafés desperdiçados. Em penitência vou optar por um chá com banha oxidada como em Ulan Bator.  
 

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19
Set22

DIA DE CHUVA...


ROMI

 

Chuva e vento desassossegados.
Falam uma linguagem que não domino.
Cúmplices no homicídio qualificado na forma tentada
de afogar o verão.
O abacateiro, suporta firme a enxurrada.
A água que não sustem
desliza em cada folha
como se fossem lágrimas.
Por trás da vidraça
Testemunha silenciosa
em apneia
para não perturbar o momento...

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