Outono em duas paragens...
ROMI

Da janela do comboio,
as estações avançam lentas,
como um outono tardio.
A paisagem recusa vestir-se
com pinceladas de ouro gasto.
O comboio não apita
a anunciar a estação seguinte.
Pouca terra… pouca terra…
As janelas tornam-se espelhos
onde o outono se penteia.
Espelhos. O olhar de quem observa
e é observado.
E eu, aqui ...
sou a paisagem que passa,
a passageira que fica.
Outono
Cada folha no chão é uma carta
que o verão esqueceu de enviar.
Dentro de mim, as estações também mudam,
devagar, e sempre um pouco tarde.
Pouca terra… pouca terra…
E o outono é a estação seguinte,
sem ninguém à minha espera.
Santa Apolónia ficou para trás.
E assim, entre paragens e outonos tardios, cada estação, do ano ou do comboio, chega sempre, mesmo quando ninguém nos espera...
