Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

DESABAFOS

Razoavelmente insuportável…

Razoavelmente insuportável…

DESABAFOS

25
Dez23

Pijamas, estrelas, pizza e gatas travessas...


ROMI

 

12316272_1045271595504407_8641254278795554667_n.jp

Os meu votos de Natal, para além da saúdinha, paz e amor, é que a vossa balança tenha mais espírito natalício do que a minha, estou farta de comer doces e não consegui emagrecer um único quilinho.

 

80506640_2789150981116451_676622254389329920_n.jpg

 

 Noite de Natal. Rejeitados e devidamente agradecidos todos os convites para passar a noite em casa alheia (eu sou uma pariga séria). A habitual troca de doces com a vizinha do lado. Silencio o telemóvel. O som das mensagens natalícias, em catadupa, fazem lembrar badaladas. Temo que os fiéis se confundam e pensem que é aqui a missa do galo.  Vestida a rigor, pijama. Mas não é um pijama qualquer, comprado na loja do chinês, tem uma estrela e tudo. Mantenho a tradição, pizza. Há quem coma bacalhau com couves, nunca vou perceber porquê, a tradição já não é o que era.

A vantagem de ser sozinho é que temos toda uma mesa só para nós. A desvantagem é não conseguir abrir a garrafa de champanhe, nada que um saca rolhas não resolva.
Fica a prova que passar o Natal sozinha também tem os seus encantos. É assim há anos, com raras excepções. É a minha tradição.
 

As velas cintilam ao som de Amy Winehouse - Back To Black. A gata Luna, porque eu não a deixei brincar com um “sonho”, derruba, mais uma vez, a pinha de Natal. Ignoro-a e como mais uma gulodice. A vizinha de cima ri com uma gracinha da neta, deduzo eu, e batem muitas palmas. Eu bebo mais um bocadinho de champanhe e corro atrás da Luna que foge desalmadamente com uma azeitona na boca. Ainda tenho uns quantos filmes para ver. 

132983836_3730611863637020_2567299762288015044_n.j

E eu aqui, nesta figurinha ridícula, com um barrete pendurado na cabeça, cortesia SAPO para anatalar o meu dia. Que bom....

esta.png  

 

16
Dez23

A consoada...


ROMI

15731726_1334761116555452_4702735024465934072_o.jp     Imagem do meu álbum "Natal na aldeia"

Fechou a porta. Confirmou que tinha o porta moedas no bolso do avental e seguiu pela vereda estreita, com a alcofa das compras pendurada no braço. 

Tinha tudo bem planeado, caso lhe perguntassem, ia passar o Natal com a filha, a Lisboa. Foi o que disse à Alice, a vizinha do lado, quando a convidou para ir passar a consoada com eles. Alice tinha a casa cheia, as filhas, os dois genros e os 3 netos. 

No caminho encontrou pouca gente, mas a pergunta inevitável surgiu. Uma deu-lhe filhós, para levar à filha. Outra deu-lhe duas farinheiras, uma morcela e uma chouriça. Não teve como recusar. Quando chegou à mercearia já levava a alcofa cheia. Comprou duas caixas de bombons, daqueles caros que a filha gosta. Pediu para embrulhar e escolheu um laço dourado. À pergunta da merceeira, respondeu que ia no dia seguinte, na carreira que passa no bairro às sete e dez. A filha ia esperá-la à estação. Ela própria acreditou no que estava a dizer.

A filha tinha vergonha dela, sabia. Mas percebeu. Os sogros eram muito finos, uns senhores. E muito bem prontos. Eram doutores, como a filha e o genro, que também era doutor, mas engenheiro. Sabiam comer de faca e garfo e falavam como os senhores da televisão. Ela sabia assinar o nome e os números até dez, foi a filha que lhe ensinou. Àh, e gostava de ópera. Olaré, até tinha um gira discos velhinho que o patrão lhe tinha dado, quando se apercebeu que ela gostava de ópera. Porque quando ouvia aquelas músicas ela parava o que estava a fazer e encostava o ouvido à porta. Também lhe deu um disco dos grandes e prometeu outro, que nunca chegou a dar. Mas não lhe levou a mal, há pessoas que gostam de dizer que fazem coisas que depois não fazem. 

Com estes pensamentos chegou a casa. Tinha de adiantar alguma coisa para comer no dia seguinte, de modo a não fazer barulho, não fosse a vizinha aperceber-se. As paredes parecem de papel, ouve-se tudo de uma casa para a outra. O pior era não poder acender o lume, por causa do fumo a sair da chaminé. Mas tinha muitos cobertores para se agasalhar, que tinha comprado num leilão, lá para os lados de Alpedrinha. Não podia ligar o aquecedor elétrico que às vezes o quadro ia abaixo. E não se podia esquecer de se despedir da vizinha. Que sorte ter-se lembrado deste pormenor.

No dia seguinte, encerrou tudo como se realmente fosse de abalada. Passou a maior parte do tempo deitada, quase às escuras, entrava uma réstia de luz pela telha de vidro que tinha na cozinha. Nem fome tinha. Tentou comer um bombom da filha, mas soube-lhe a lágrimas.

De vez em quando ouvia o telefone da vizinha tocar. Ela nunca quis telefone, a filha já tinha gasto dinheiro nos óculos e nos dentes novos, a que nunca se habituou, e não quis dar-lhe mais essa despesa. 

Quase oito da noite. Batem-lhe à porta. -” Ó Lena, abre ca gente sabe que tás aí. Ligou a tua filha a desejar um bom Natal e o ti Flipe disse que hoje não houve camenete da carrêra. Anda comer para irmos à missa do galo”.

Acendeu a luz, calçou os sapatos de domingo, embrulhou-se no xale de lã grossa que lhe cobriu a cabeça e respondeu ao apelo de quem lhe queria bem.

Nunca soube se tinha esgotado as lágrimas, se estava demasiado feliz para chorar. 

 

Olhou para os vizinhos e viu anjos.

Ignorou a saudade e chamou-lhe Natal.

13
Dez23

ESTAMOS TODOS...


ROMI

IMG_20231213_193403.jpg 

"Só se começa a comer quando estivermos todos à mesa." Há anos que não ouço esta frase; acredito que continue em uso. Curiosamente, reparo que é uma expressão de família, maioritariamente usada nesse contexto. É uma frase de conforto. Quando a ouvia, não tinha o conceito de família. Soava-me a ultimato, uma imposição. Ainda hoje não tenho o conceito de família, e queria tanto ter. Por inerência, e dado que o Natal é a festa da família, também não tenho o conceito de Natal.

Às vezes, imagino-me numa mesa enorme, em noite de consoada, rodeada de gente à qual não consigo atribuir um rosto. Eu e os meus fantasmas. Desisto. Decididamente, não gosto do Natal, apesar de ter enfeites espalhados pela casa e das comidas tradicionais na mesa. Que é posta só para um.

A gata Luna aninhada na cadeira, ao meu lado. Em frente, o ursinho Frusky, que tem quase a minha idade. Sentar um ursinho de peluche à mesa é quase um sinal de demência, mas é a sensação de estarmos todos. Estamos todos. Podemos começar a comer. 

Assumo, eu gosto do Natal. O Natal é que nunca gostou de mim.

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub