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DESABAFOS

Razoavelmente insuportável…

Razoavelmente insuportável…

DESABAFOS

14
Jun25

Num Dia Útil...


ROMI

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Ninguém conhece o peso que o outro carrega no silêncio.

Depois, morreu-me num dia normal. Útil. Nem era domingo, nem um dia a preto e branco, nem chovia. Era só um dia que prometia não acontecer nada.
Um ataque cardíaco. Fulminante. Como o fogo de artifício na noite de São João... a única que passámos juntos, no Porto. Aquela cascata de lume a despenhar-se da ponte, a cair no rio, como um grito que se apaga. Fulminante. Como o ataque que te levou de mim.

Em escrita alheia, alguém criticava a minha futilidade em publicar comida exótica, viagens, livros lidos e por ler, e por falar da minha avó. E eu, sem saber, nesse dia inútil, já chorava o meu amor, sem saber se realmente ia partir.

O meu amor de um só dia partiu. E o céu nem ficou mais bonito.


Fecho os olhos. Volta o sonho recorrente em que não consigo ver as horas no relógio de pulso preto de mostrador grande. Relógio sem horas: metáfora do tempo suspenso e da urgência de um adeus impossível.
E é urgente. É imperativo. Saber as horas.
Dizer adeus.
Ao meu amor.
Que partiu.

Partiu. Sem deixar o céu mais bonito. 
Num dia que se chamou útil.
Num dia que nem passou por mim.

 

 

 

 

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