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DESABAFOS

Razoavelmente insuportável…

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DESABAFOS

31
Jul25

O Samurai, de Shusaku Endo...


ROMI

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O Samurai, de Shusaku Endo, é um romance notável. É menos uma história de samurais no sentido tradicional, e mais uma meditação sobre fé, identidade, sofrimento e o confronto entre culturas. Baseado numa missão diplomática real do século XVII, o livro acompanha um samurai enviado do Japão à Europa numa tentativa de estabelecer relações comerciais e religiosas com o Ocidente.

Não sei bem o que me levou, na altura, a comprar o livro. Talvez o preço. O título, confesso, não me sugeria um tipo de leitura que apreciasse. Mas foi um livro que me tocou profundamente e que me acompanhou muito para além da última página.

Há uma passagem que me indignou imenso. Um japonês, ao observar uma imagem de Cristo, dizia não entender como os católicos conseguiam adorar um ser tão miserável. Meio nu, coberto de feridas, vestido com uma fralda e uma coroa de espinhos na cabeça. Para ele, habituado à figura opulenta e feliz do Buda, gordo e corado, aquilo era simplesmente incompreensível. Questionava o que é verdadeiramente digno de adoração, a glória ou a fragilidade, o poder ou a compaixão.

 Isso levou-me à infância.
Tenho memória da minha madrasta ajoelhada aos pés da cruz, na igreja, a pedir alguma benesse. E eu, pequena, não percebia como ela tinha coragem de pedir fosse o que fosse a alguém que parecia mais frágil do que ela, alguém que, em aparência, tinha ainda menos. Eu achava que ela devia tirar o casaco de peles que usava e cobri-Lo. Talvez esta associação tenha sido o motivo da minha indignação.

O Samurai, de Shusaku Endo, vale muito a pena ler.

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