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DESABAFOS

Razoavelmente insuportável…

Razoavelmente insuportável…

DESABAFOS

22
Out25

Reincidência Inevitável...


ROMI

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O meu pensamento, um simulacro de palavras, vítimas de atropelamento e fuga. Espalham-se em contramão, inconscientes, como fragmentos de um puzzle de conclusão aleatória. Num alfabeto de esperança que se basta, como uma eremita urbana, era urgente terem morrido na véspera.
Salto alto, saudade negligente, que desfila como vírgulas em ponto de espera para ser ponto e vírgula e é apenas exclamação. Afasto o cabelo em desdém como quem apaga no papel, as palavras sinistradas, proibidas de formar pensamentos.
Num último suspiro, falam-me de coisas que nunca disse, de memórias que talvez não sejam minhas. Arrastam-se, tropeçam umas nas outras, até se confundirem com o pó do léxico. Às vezes penso que são elas que me pensam, que a minha mente é apenas o cenário do seu acidente.
E eu fico aqui, entre o rescaldo e a tentativa, a observar o trânsito caótico das ideias, na esperança de que alguma palavra, intacta, numa amnésia improvisada, não saiba o caminho de volta.
Não podem sobreviver, era urgente terem morrido na véspera.

  

 

21
Mar25

O sopro (anónimo) das palavras...


ROMI

Porque hoje é o Dia Mundial da Poesia, deixo o meu apreço a tantos poetas anónimos, com obras de excelência não assinada. Os poetas anónimos oferecem ao mundo beleza sem exigir reconhecimento, e isso é, por si só, de uma nobreza ímpar.

Numa espécie de tertúlia, Odair recitou este poema, que não é dele. Nem sabe de quem é. Mas ofereceu-mo. Acho-o lindo. Queria ter sido eu a escrevê-lo. Na impossibilidade, resta-me agradecer ao Odair e, num gesto altruísta, oferecê-lo também a quem dele gostar.

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Sopro das palavras 

"Sabes, às vezes sinto que sou feita de vento.
Que sou só um sopro, uma promessa que nunca se cumpriu.
Caminho por estas ruas e ninguém me vê.
Sou um nome que não ficou na boca de ninguém,
um rosto que o tempo já começou a apagar.
Mas eu existo... não existo?
Se fechar os olhos agora, desapareço?
Ou sou como a poeira, que dança sem que ninguém repare?
Ah... como queria ser lembrança, ser história contada ao pé do fogo...
Mas talvez eu seja só isso:
um instante que passou e ninguém guardou"
 

Autor desconhecido.

Imagem: gaivotas são como palavras sopradas ao vento.

 

18
Out24

Não podem abraçar-me só porque sim...


ROMI

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Palavras sopradas pelo vento voam em minha direção. E abraçam-me. Só porque sim. 

Visualizo o momento, num retrato a preto e branco. 

Levanto a mão, como faria qualquer índio, num gesto de paz, e conquisto o direito de ser ouvida. As palavras caem-me aos  pés, rendidas. Sabem que os blocos de gelo também choram quando derretem. Não podem abraçar-me só porque sim.

A distância sobrevive, salgada como a água do mar, que respira  ondas. Eu respiro silêncios, despedidas, esperas e nadas. A resiliência de quem aprendeu a ser e estar, como quer ser e quer estar.

Reconcilio-me com o vazio que nem sinto. Não me desinquietem as sombras que se aninham em palavras vãs. Não me abracem. 

Não podem abraçar-me só porque sim.

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