Reincidência Inevitável...
ROMI
O meu pensamento, um simulacro de palavras, vítimas de atropelamento e fuga. Espalham-se em contramão, inconscientes, como fragmentos de um puzzle de conclusão aleatória. Num alfabeto de esperança que se basta, como uma eremita urbana, era urgente terem morrido na véspera.
Salto alto, saudade negligente, que desfila como vírgulas em ponto de espera para ser ponto e vírgula e é apenas exclamação. Afasto o cabelo em desdém como quem apaga no papel, as palavras sinistradas, proibidas de formar pensamentos.
Num último suspiro, falam-me de coisas que nunca disse, de memórias que talvez não sejam minhas. Arrastam-se, tropeçam umas nas outras, até se confundirem com o pó do léxico. Às vezes penso que são elas que me pensam, que a minha mente é apenas o cenário do seu acidente.
E eu fico aqui, entre o rescaldo e a tentativa, a observar o trânsito caótico das ideias, na esperança de que alguma palavra, intacta, numa amnésia improvisada, não saiba o caminho de volta.
Não podem sobreviver, era urgente terem morrido na véspera.

