O "Corvo". Ao que parece fechou o perfil. Das pessoas mais gentis que conheci por aqui.Tinha sempre uma palavra de carinho para me mimar. Aos poucos foi-se afastando, deu outro rumo ao Blogue. Há que respeitar. Mas estava lá. Eventualmente, terá ou abrirá outro espaço, neste charco (como carinhosamente chamamos). É o meu desejo.
Nunca as últimas palavras que me deixou fizeram tanto sentido, mas no sentido inverso. Sou eu que as dedico a quem me deu tanto.
Que esteja e se sinta bem, querido amiguinho CORVO. Voltará ou não, nunca será esquecido e será sempre recordado. Toda a felicidade do mundo para si, e que o farol da serenidade ilumine os passos do seu caminho. Saúde, paz e harmonia na sua vida Um beijinho.
Era costume fumar na janela da marquise, para ver o pôr do sol. Na varanda da vivenda em frente, um senhor, de meia idade, barba branca e ar distinto, fumava cachimbo. Se os olhares se cruzassem, dizíamos, imperceptivelmente, boa tarde e nada mais. Por norma, e para meu deleite, havia sempre uma música clássica no ar. Uma em particular que eu gostava muito, sabia que era do Pavarotti, mas não sabia o nome da ária. Enchi-me de coragem e perguntei-lhe. Caruso, respondeu ele. A partir desse dia, sempre que eu ia à janela, ele punha Caruso. E eu agradecia-lhe com um acenar de cabeça e sorriso discreto. O senhor, não sei o nome, manteve o ar distinto, apesar de cada dia mais débil. Quando umas senhoras, vestidas de preto, encerraram de vez as portadas das janelas, deduzi que faleceu. Eu, em homenagem, continuo a ouvir Caruso. O senhor já não está. E mesmo que estivesse, não o poderia ver. Nem ao pôr do sol. As árvores do jardim de baixo cresceram imenso. De tal forma que quando vou à janela, só vejo o cume das árvores. Mas gosto de acreditar, que o senhor do cachimbo está lá e que põe Caruso só para mim.
E às vezes cantávamos, e abafávamos o som da viola. E riamos, riamos sempre muito. Não sabíamos, mas éramos barulhentos. Tão barulhentos que nem ouvíamos os barulhos domésticos, o tilintar dos talheres no prato. O silêncio falava baixinho. Agora o silêncio ganhou voz. Estou só, parece-me.
Vangelis, nos momentos em que não me apetece pensar. A música a fluir eu a deixar-me ir. Vangelis, para me ajudar a serenar, devolver alguma lucidez. Uma fonte de inspiração também, na escrita, devo-lhe tantas palavras.
Partiu, a obra fica. Fica também a saudade imensa.
Obrigada. Daqui... até que!!!
"Aqueles que por obras valorozas se vão da lei da morte libertando"